Desde criança fui irritante e chato. Individualista ao cubo sempre me excluí da sala de aula. Temia socializar-me com as pessoas e ter que dividir com elas meu espaço. Tinha asco as crianças simples e pobres. Se visse um moleque de pés sujos no chão, roupa rasgada, corria para o outro lado da rua. O orgulho tomou conta de minha infância. Quanto pecado. Era o caçula. Minha mãe tinha mais um filho com meu pai, Adair Júnior, já meu pai tinha três filhas e um filho do primeiro casamento. Sempre desprezei meu irmão, Adair Júnior, pelo fato de ser obeso, desprezava-o, sentia-me feliz em humilhá-lo e chamá-lo de “Baleia”, “Free Willy”, “Bojão setenta, cai no chão e não rebenta” e apelidos idem. Meu coração não se comovia ao vê-lo chorar, desprezado, humilhado em um canto. Hoje me arrependo disso, sei que contribuí para a Bulimia da qual sofre, que resultou numa perca de muitos quilos, transformando-o em um belo rapaz, magro.
Sempre critiquei as mães de meus colegas. Orgulhoso de ter uma mão bonita menosprezava-os com a figura da minha. Colocava-a no lugar de uma rainha.
Meu mundo começou a despencar quando nasceu meu irmão João Paulo e perdi o lugar de caçula.
Dois anos mais tarde minha mãe teve um surto psicótico em minha frente, só eu e ela, disse-me coisas incongruentes. No outro dia transtornada saiu gritando pelas ruas, chorando, dizendo estar com câncer. Diagnosticaram sua doença como Transtorno Bipolar. Nos mudamos de Bonfinópolis para Pirenópolis. Sofri muito com a ausência de meus avós maternos, sem os quais não sabia viver. Lá vivi dois anos. Dois anos que mudaram minha vida
Resolveram internar minha mãe em uma clínica de repouso. Fiquei com vergonha de falar as pessoas qual era sua doença. A palavra louca feriu muito meu ouvido nessa época. Com dez anos fiz o papel de babá de meu irmão de dois anos, sendo-lhe pai e mãe. Meu pai, horticultor de nascença, saia cedo e retornava a noite. Por isso não tive uma figura paterna tão presente em minha vida.
Tive que vencer a solidão, o fato de ter uma mão doente, uma família desestruturada. Comecei a apresentar sintomas depressivos. Minhas notas na escola decaíram, tinha constantes crises gástricas, que me fizeram rotineiro conhecido do Hospital Ernestina (não me lembro o resto). Pensava não encontrar mais razão de viver.
Quando minha mãe saiu da clínica ficava entre nossa casa e a casa de uma irmã sua. Quando ela estava em casa eu não ouvia nada além de brigas e maldições.
Fui embora para a casa de minha avó materna, que também sofria com a morte recente de meu avô. Pela primeira vez reprovei de ano. Para superar a baixa autoestima ingressei na Igreja. Ela me salvou, com a graça de Deus. Hoje sem ela nada sou, é essa Igreja triunfante, do Crucificado, que torna-se o sustento de meus pés.
Vejo o sofrimento como algo que nos lapida. Afinal o diamante não pode tornar-se belo sem sofrer percas ou o ouro tornar-se uma aliança, um anel, sem passar pelo fogo. Tive que perder muitas coisas para enxergar a vida de uma forma diferente, para converter-me sinceramente.
Deus quis derrubar-me de meu trono, mostrar-me que ele é o único rei. Agradeço-o hoje e sempre por ter feito isso.
Tive que deixar o orgulho, o egoísmo de lado. Aprendi a ser cristão da maneira mais difícil. E você, será que precisará sofrer uma lapidação severa para aceitar o plano de Deus na sua vida?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este é um blog católico romano, só serão aceitas postagens que não desacatem a fé de ninguém. Deus o abençoe.